Crônica de um Nascimento! - Por Vina Ferreira


Então chegou!
Meus 53 anos já se instalaram perfeitamente em mim, mas, retrocedendo um pouquinho para 15 de abril de 1966, eu a vejo...
Lá estava ela, a mulher maravilhosa que eu chamo de mãe, sentindo as primeiras dores da minha chegada a esse planeta.
Eu nasci às 2 horas da manhã, na nossa antiga casa, com ajuda do meu pai e pelas mãos de uma parteira com o mesmo nome da minha mãe, ou seja, tive a felicidade de ser trazida ao mundo por duas Marias e depois de alguns gemidos e empurrões eu cheguei!
Cheguei forte, cabeluda e cheia de fome, o que não é nenhuma novidade (rs). Conta minha mãe, que assim que nasci, levei uma de minhas pequenas mãozinhas até a boca e fiquei sugando esfomeada, então por conta disso, ganhei uma “chuquinha” de chá, que aliás, vale a pena fazer um aparte para explicar, que chuca, nessa época, era apenas uma mamadeira bem pequenina que as mães usavam para dar água ou chá aos seus bebezinhos, então por favor, não pense nenhuma merda!
Bom, mas voltando ao meu nascimento, lá estava eu, a mais nova habitante do planeta terra, e olha que eu não tinha nada de ET, pois eu era muito fofinha, olhos pequeninos, cabelinho preto e carinha rechonchuda!

Mamãe diz que fui um bebe muito boazinha, quase não chorava, porém, vivia com fome!
Por sorte mamãe tinha bastante leite e não me negava seus peitos, mas eu tinha que mamar escondidinha para evitar que a minha irmã mais velha visse. Coitadinha, ela tinha 3 aninhos e foi obrigada a deixar os "tetes" da mamãe para mim, que cheguei de supetão atrapalhando os planos dela, afinal, ela perdeu o colo, perdeu parte da atenção e perdeu os peitos da mãe, sim porque naquele tempo a gente mamava até cansar, não tinha essa de mamar até 6 meses não, era a gente que mandava e a mãe deixava!
Eu mesma mamei até os meus seis anos! É sério! Mamei até os 6 anos de idade e me lembro disso perfeitamente... eu entrava entre as pernas da minha mãe, erguia a blusa dela até libertar a minha fonte de alimentação e então eu mamava feliz até me fartar e ela, minha mãe, acariciava meus cabelos deixando claro a nossa conexão de amor!
Ah tempos felizes, sem preocupação, sem medo de nada, uma inocência verdadeira e divina.
Na verdade eu só parei de mamar porque uma amiguinha me pegou no flagra. Nós morávamos em Jundiaí, papai trabalhava em uma empresa daquela região, a irmã mais velha morava com a vovó para poder estudar, e em casa era eu, mamãe e uma tia que ajudava a cuidar de mim. Me lembro perfeitamente o dia deixei os peitos da mãe... lá estava eu, em pé, entre as pernas de mamãe, segurando com uma das mãos a blusa dela para cima e com a boca em um de seus peitos me fartando, quando de repente, a minha amiguinha Angélica, da mesma idade que eu, passou pela porta da sala com o objetivo de me chamar para irmos juntas à escola, quando ela me viu mamando, levou um susto:

— Você ainda mama? — falou ela horrorizada e eu me senti uma menina crescida que ainda não tinha deixado de ser bebe, morri de vergonha e daquele dia em diante eu falei para minha mãe que não ia mais mamar e realmente não mamei mais, criança determinada eu, né?

Porém, mamar até os 6 anos me fez uma mulher forte, sou bastante saudável e quando algo acontece e eu tenho que demonstrar minha força, sempre digo em alto e bom tom:

— Sou forte! Mamei até os 6 anos!

Mas sei que não sou a única com esse privilégio, tanto que, outro dia, na cidade de Curitiba, onde fui participar de um evento literário, estava eu com duas amigas e decidimos fazer um passeio de trem até Morretes. Pegamos uma van que nos levou até o local para embarcarmos no trem e na mesma van, havia um senhor com 98 anos e em meio a um bate papo sobre a vida, ele se manifestou dizendo que era um homem forte, apesar da idade, porque mamou até os 5 anos.

Imaginem eu ouvindo isso!!!

Estava sentada na primeira fileira de bancos e ele na última, me levantei de imediato e gritei vitoriosa:

— Ahá! Ganhei do Senhor, pois eu mamei até os 6 anos!

— Pois então se prepara — respondeu ele. — Pois você vai viver além dos 100 anos — concluiu sorrindo.

Foi uma ocasião de muitas gargalhadas, que me fez sentir uma alegria muito especial por ser quem sou.
Hoje, nesse momento em que me dou conta de que 53 anos se passaram, me pego com as lágrimas acumuladas nos meus olhos, prontas para rolarem pelo meu rosto e aliviarem essa pressão que a saudade traz na alma!
Tudo é diferente, a inocência se foi, o mundo se tornou real demais, os cabelos da mamãe e do papai se tornaram brancos como nuvens de algodão, mas, o sorriso ainda é o mesmo, reflexo de um amor incondicional.
As lições ainda perduram, repletas de ensinamentos e valores que estão enraizados em mim, eu sou uma enorme parte deles, os meus progenitores!
Apesar de ver que os meus cabelos também estão mudando de cor, eu sei que para eles, sempre serei a eterna menina que corria pela casa, a menina que erguia a blusa da mãe para mamar, a menina que ficou engessada por conta de um defeito de nascença que foi curado graças a dedicação e amor deles por mim, a menina que acordava de madrugada ao ouvir a voz do pai chegando em casa depois de 15 dias trabalhando fora. A menina que cantava junto com a irmã mais velha festejando a chegada do irmãozinho, a menina que subia no pé de manga, que muitas vezes se machucava, chorava e em outras vezes sorria feliz por ganhar um tamanco, ou uma boneca de olhos azuis. Eu sei que sempre serei essa menina aos olhos deles, porque o amor deles é assim, eterno!

O que eu sinto ao completar 53 anos?

Sinto que sou um ser privilegiado por ter um pai e uma mãe tão maravilhosos e comprometidos com a minha existência, pois eles foram o meu início, sem eles eu não estaria aqui hoje comemorando mais um ciclo de vida, sem eles eu não seria a Shirley, sem eles eu não seria a Vina e não estaria escrevendo um pouco de mim para vocês!

Feliz aniversário de vida para mim!

Gratidão ao Universo por mais um ciclo e que venham muitos, afinal, eu mamei até os 6

anos!


                                                                                                                Por Vina Ferreira.

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